quinta-feira, 26 de abril de 2012

A DESCOBERTA DA LIGAÇÃO ENTRE DIABETES MELLITUS E O PÂNCREAS


llOs achados de Dobson influenciaram pesquisadores a buscar as possíveis causas da doença e os órgãos potencialmente envolvidos. Inicialmente, acreditava-se que os rins eram órgãos primariamente afetados na doença, já que a poliúria era um de seus achados centrais. Jhon Rollo foi o primeiro pesquisador a afirmar que a glicosúria do DM era secundária a hiperglicemia e não um evento primário da doença. Estudando um paciente com o que hoje sabemos ser DM tipo 2, registrou a quantidade de açúcares ingeridos e excretados na urina e observou que a quantidade de açúcares eliminado era proporcional a quantidade ingerida. Dessa forma, concluiu que a glicosúria era secundária aos carboidratos dietéticos e uma conseqüência de hiperglicemia. Mais, tardiamente, métodos para medida da glicose no soro e urina foram desenvolvidos e confirmaram os achados de Rollo.
Também levantou-se a possibilidade de o fígado ser o principal órgão envolvido. Havia várias observações de hepatomegalia em pacientes diabéticos, o que hoje em dia sabemos tratar-se de esteatose associada à resistência insulínica. O fato de Claude Bernarde ter demonstrado que a glicose era formada no fígado e que este mesmo açúcar era encontrado na urina de pacientes com diabetes reforçou esta hipótese.
A relação causal entre diabetes e o pâncreas foi suspeitada pela primeira vez por Cawlwy, em 1788, ao observar, na autópsia de um paciente com diabetes, a destruição desse órgão. Entretanto, não foi no final do século XIX (1889) que Oscar Minkowski e Joseph Von Mehring removeram o pâncreas de um cão, o que resultou em diabetes mellitus fatal, demonstrandoa importância do pâncreas para o aparecimento da doença. Este foi também o ponto fundamental para determinação da função pancreática endócrina. A ligação entre a função endócria e as ilhotas de Langerhans só foi reconhecida mais tardiamente, entre 1891 e 1894 por Laguesse.
Paul Langerhans, um estudante de medicina alemão, descreveu agrupamentos de células “claras” no interior do pâncreas, distintas das demais células do órgão e sem comunicação direta com os ductos excretores. Naquela época, sabia-se que o pâncreas produzia enzimas digestivas, mas não foi identificada a função destas novas células não-ducais descobertas. Somente 24 anos mais tarde, Gustave-Edouard Iageusse, estudando a anatomia pancreática, se referiu a estes agrupamentos como ilhotas de Langerhans.
Em 1910 Jean Meyer sugeriu que a secreção pancreática deficiente do DM deveria se chamar insulina por sua origem “insular” nos agrupamentos denominados ilhotas de Langerhans. No entanto, somente mais tarde seria a insulina identificada no interior das células B e glucagom isolado no interior das células B pancreáticas de pacientes que faleciam da enfermidade.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A HISTÓRIA DO DIABETES MELLITUS

llAcredita-se que a primeira civilização a estudar a medicina de forma extensa e registrar observações acerca de suas práticas e procedimentos viveu no Egito Antigo, 1500 a.C. Atribui-se ao papiro Ebers, a primeira referência ao diabetes mellitus. Este documento, que posteriormente se tornou um dos famosos da literatura médica da Antiguidade, descreve tratamentos para “eliminar urina volumosa”, como um composto incluindo frutos e plantas como tâmaras verdes e flores de pepino ou ainda injeções retais de óleo de oliva, mel, cerveja e sal marinho. No entanto, foi somente o século II, na Grécia Antiga, que a enfermidade caracterizada por poliúria foi denominada “diabetes”. Este termo foi cunhado por Arateus, discípulo de Hipócrates, que descreveu a doença como “uma condição extraordinária em que a carne do corpo e dos membros se derretia e se convertia em urina” e observou ainda sua associação com polifagia, polidipsia e astenia. O termo “diabetes” tem origem na palavra grega que significa “passar através de um sifão”, devido ao fato de que um dos sintomas mais típicos da doença era poliúra, com uma quantidade de fluidos eliminada maior do que a consumida, semelhante à drenagem de água através de um sifão. Os médicos indianos Charaka, Susruta e Vagbata foram os primeiros a reconhecer o gosto doce da urina de pacientes com diabetes, notando inicialmente o acúmulo de formigas e moscas ao redor da urina de indivíduos afetados. A mesma observação foi feita na China e no Japão, mas somente no século XVII foi estabelecida conclusivamente a associação entre diabetes e a presença de açúcar na urina, pelas observações de Thomas Willia em 1674 e os experimentos de Mathew Dobson em 1776, na Inglaterra. Willis provou a urina de um paciente diabético e constatou que era “doce como mel”. Dobson forneceu evidências experimentais de que as pessoas com diabetes eliminavam açúcar na urina, aquecendo a urina até seu ressecamento e formado resíduo açucarado. William Cullen, no entanto, foi o primeiro a diferenciar diferentes tipos de diabetes e instituir o termo “diabetes mellitus” (“mellitus = mel, em latim). Em 1769, publicou uma classificação elaborada das doenças humanas que incluía dois tipos de diabetes: 1) diabetes insípidos, com urina límpida, mas não adocicada. Em meados do século XIX, Lancereaux e Bouchardet sugeriram que existiam dois tipos de diabetes, um mais grave em pessoas mais jovens e outro de evolução mais branda, especialmente em idosos e obesos, que posteriormente passaríamos a reconhecer como DM tipo 1, e DM tipo 2, respectivamente.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 12 de abril de 2012

OBESIDADE: O PAPEL DAS FIBRAS DIETÉTICAS

llFibras dietéticas são carboidratos não-digeríveis presentes exclusivamente em alimentos de origem vegetal. Dados epidemiológicos sugerem que o consumo adequado de fibras pode prevenir o desenvolvimento de obesidade. Populações que reportam maior consumo de fibras também demonstram menor prevalência de obesidade. Um estudo na Suécia com 5.000 indivíduos mostrou associação da obesidade não só com a ingestão energética aumentada, como também com o consumo diminuído de alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais (Lissner ET AL., 1998). Em estudo com adultos jovens, observou-se que o consumo de fibras estava inversamente associado ao IMC, independentemente do consumo de gorduras. Estudos intervencionais encontram maior perda  de peso em sujeitos submetidos a dietas ricas em fibras.
Algumas hipóteses foram aventadas para explicar o poder das fibras de promover a perda de peso e prevenir o desenvolvimento da obesidade. Heatin (1973) propôs que as fibras agem como barreiras fisiológicas para a ingestão de energia por meio de três mecanismos: primeiro, as fibras substituem as calorias e nutrientes disponíveis da dieta; segundo, as fibras aumentam a necessidade de mastigação , promovendo a salivação e a secreção de suco gástrico, resultando na expansão do estômago e promoção da saciedade; terceiro, as fibras diminuem a eficiência de absorção de nutrientes no intestino delgado. Estudos apontam que dietas contendo alimentos ricos em fibras, como frutas e hortaliças, têm papel importante na regulação do peso corporal provavelmente porque seu consumo diminui a densidade energética da dieta, promove a saciedade e diminui a ingestão energética. Dietas que fornecem quantidade adequada de fibras têm, usualmente, menor densidade energética e maior volume do que dietas pobres em fibras, fato que pode limitar espontaneamente o consumo de energia.

O Uso de Adoçantes em Substituição à Sacarose
A maioria dos programas para perda de peso têm enfocado principalmente a redução da ingestão de gordura e açúcar (sacarose), a fim de se evitar o consumo de alimentos de alta densidade energética e a hiperfagia e, assim, alcançar um balanço energético negativo. Entretanto, ainda não está muito claro se a substituição de açúcar de adição (sacarose e outros carboidratos simples) por adoçantes de baixas calorias ou carboidratos complexos, introduzidos como ferramenta para diminuir a ingestão energética, realmente contribui para a perda de peso.
No entanto, a influência do uso de adoçantes como o aspartame, a sucralose e acessulfame-K sobre a saciedade ainda não é bem esclarecida. Enquanto alguns estudos têm mostrado maior apetite após o consumo de alimentos adoçados com adoçantes de baixas calorias, outros não apontaram esse efeito.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quarta-feira, 4 de abril de 2012

DIABETES MELLITUS TIPO 2 EM CRIANÇAS

llEsta sempre foi uma doença típica de pessoas maduras, acima da faixa de quarenta anos. Atualmente já não é mais. A causa dessa mudança é, principalmente, resultado do aumento da obesidade infantil, associada aos maus hábitos alimentares.
O aumento de diabetes tipo 2 nas crianças e adolescentes está associado à obesidade, principalmente se houver histórico familiar de diabetes. “Nos EUA quase metade dos diabéticos na infância e adolescência tem DM tipo2”.
Nessa faixa etária o diabetes mais comum é o de tipo 1 (doença autoimune, que esgota a produção de insulina pelo pâncreas), que não está associada ao sobrepeso e nem à alimentação.
“No controle de diabetes, a dieta é essencial. Deve-se realizar uma dieta adequada para a idade, balanceada em macro (gordura, carboidratos e proteínas) e micronutrientes (vitaminas e elementos-traço, tais como, ferro e zinco”).
SE DIAGNOSTICADO CEDO E FOREM CORRIGIDOS OS HÁBITOS DE VIDA COM DIETA E EXERCÍCIOS, CONTROLA-SE A GLICEMIA.
Uma vez instalado, o diabetes terá que ser controlado e voltará, caso o paciente não siga as orientações.
Fast-foods e cantina da escola
Passagem obrigatória para toda criança, mas que bagunçam qualquer dieta.
“Estamos mudando culturalmente, criando hábitos alimentares cada vez mais parecidos aos do povo norte-americano. A alimentação em fast-foods nas praças de shoppings centers e os baldes de pipoca com manteiga demonstram a tendência a copiar o modelo de fora, que favorece a obesidade.
Em minha opinião o currículo escolar deveria incluir aulas de educação nutricional. “Se a criança aprendesse a se alimentar a cantina teria que mudar seu cardápio. A criança mudaria até os hábitos da própria casa”.
COMECE AGORA MESMO
Muitas vezes a reeducação alimentar é para a família inteira. É comum a criança acima do peso também ter um dos pais ou ambos nesta mesma condição. Veja abaixo recomendações para reeducação alimentar de crianças obesas:
Ao invés de proibir alimentos, o melhor é controlar a porção a ser ingerida.
Comer devagar em local tranquilo, longe da televisão, videogame ou computador.
Optar por sanduíches saudáveis, com recheios menos gordurosos, como ricota, embutidos de aves, vegetais folhosos, tomate e queijo magro.
Incentivar o consumo de frutas (com casca, sempre que possível), verduras, e evitar consumo de alimentos congelados e pré-prontos.
Estimular a criança a tomar bastante água ao longo do dia, inclusive na escola.
Evitar refrigerantes, que, além de conterem muito açúcar, prejudicam a saúde dos ossos, causam irritabilidade gástrica e cáries.
Incentivar brincadeiras e atividades físicas ao ar livre.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista