quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

CIRURGIA PARA DIABETES

llDiabetes mellitus do tipo 2 (DM2) tem assumido proporções epidêmicas em vários países do mundo, incluindo o Brasil, sendo o aumento da prevalência do sobrepeso e da obesidade uma das principais explicações para esse fenômeno. A maioria dos autores tem preconizado a redução de peso por meio de mudanças comportamentais (hábitos alimentares, atividade física, suporte psicológico etc.) associadas, às vezes, ao uso do anorexígeno como ponto central para o controle glicêmico.
Apesar dos avanços obtidos na compreensão dos mecanismos envolvidos na fisiopatogenia da obesidade e sua relação com o diabetes acrescido ao surgimento de novos agentes terapêuticos para redução de peso, os resultados a médio e longo prazos continuam desapontadores. Segundo diversos consensos de tratamento nos pacientes com obesidade grau III ou mórbida (índice de massa corporal [IMC] igual ou superior a 40kg/m²) ou igual a superior a 35kg/m² com comorbidades graves nos quais tenha havido falha dos tratamentos clínicos, a cirurgia antiobesidade  ou bariátrica é uma opção terapêutica com sua eficácia documentada em inúmeros estudos controlados. Apesar da importância da redução de peso resultante do tratamento cirúrgico, este não parece ser o único e, talvez, nem o mais importante fator no controle e, algumas vezes, desaparecimento do diabetes.
Com a incidência de DM2 aumentando em todo o mundo e em razão de sua elevada morbidade, novas formas de tratamento vem sendo pesquisadas.  Estudo recente demonstra interessante redução de mortalidade com tratamento intensivo, com diminuição de uma morte para cada cinco pacientes tratados, porém dados do National Health and Nutrition Examination Survey mostram que o controle glicêmico adequado ocorre em somente 35,8% dos pacientes diabéticos, representando o que se vê na pratica clinica diária. Essa percepção de que o diabetes é uma doença crônica e progressiva, de difícil controle, leva a tentativas freqüentes de novas abordagens, que evidentemente necessitam passar  por um crivo científico adequado.  
O efeito das cirurgias bariátrica no controle do diabetes, assim como de novos procedimentos cirúrgicos, objetiva uma abordagem mais fisiopatológica da doença.
Sendo uma patologia milenarmente tratada de forma clínica, uma série de controvérsias éticas surge na análise e aceitação dos procedimentos cirúrgicos para tratamento e eventual remissão do diabetes.
Procedimentos cirúrgicos em diabéticos obesos têm conseguido levar a remissão por longo prazo. A cirurgia bariátrica, especialmente a gastroplastia com derivação gástrica em Y de Roux e cirurgias disabsortivas, é efetiva em controlar o DM2 em cerca de 80% a 100% dos pacientes.
Um estudo de metanálise mostrou remissão de 80% dos casos de DM2 em 22.094 pacientes avaliados. 

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

GENOMA HUMANO

llConsiderado uma das maiores realizações da ciência em todos os tempos, o Projeto Genoma Humano catalogou e esta decifrando todas as informações genéticas contidas nos cromossomos humanos..
Essas informações, chamadas genes, determinam nossa vida desde a concepção, governando o desenvolvimento do embrião e do feto, as diversas fases de crescimento e de maturação de nosso corpo e, finalmente, seu envelhecimento.
• Genoma: é o conjunto do material genético contido nos cromossomos. Esse material abriga todas as informações necessárias à formação e ao desenvolvimento de um indivíduo.
• Células: contêm, em seu núcleo, 46 cromossomos, que armazenam as informações que instruem o funcionamento do organismo.
• Cromossomos: neles estão contidos cerca de 50 mil genes, que atuam para formar as características individuais e compõem o genoma.
• DNA: matéria-prima dos cromossomos, composta por seqüências de quatro substâncias químicas, as bases nitrogenadas A, T, C e G, respectivamente, adenina, tiamina, citosina e guanina. Um erro (mutação) nas seqüências pode resultar numa doença.
Estima-se que existem quatro mil doenças hereditárias. A doença genética ocorre a partir de uma mutação, que pode ser transmitida com a reprodução do gene defeituoso dos pais para os filhos.
As diferenças entre indivíduos são, em larga medida, determinadas por pequenas variações nos genes. Algumas delas são óbvias, como a cor da pele e a do cabelo. Mas diferenças genéticas também influenciam, por exemplo, em nossa suscetibilidade ou resistência a determinadas doenças.
A informação contida nos genes pode sofrer alterações, espontaneamente ou através de agentes como radiações, poluentes, etc. Essas alterações - chamadas mutações – podem causar doenças genéticas e, conforme o caso, ser transmitidas através das gerações. 
Assim, conhecer nossos genes, saber o que cada um deles controla no organismo, entender como funcionam, nas diversas fases de nossa vida são informações fundamentais para o progresso da medicina.
Atualmente, podemos “ler” com facilidade a informação contida nos genes, por meio de uma tecnologia conhecida como seqüenciamento de DNA.
O DNA (ácido desoxirribonucléico) é a substância que constitui os genes, composta pelo arranjo seqüencial de quatro componentes básicos denominados nucleotídeos: as “letras” da informação genética. Essa seqüência de “letras” varia de gene para gene. As diferentes seqüências (com centenas ou milhares de nucleotídeos) são as “palavras” da informação genética, contidas nos genes. Os genes estão abrigados em nossos cromossomos, que seriam os “livros” dessa biblioteca da vida, existente em cada uma de nossas células.
As possibilidades abertas pela genética genômica são muitas e, sem dúvida, mudarão a medicina já nesta segunda década do século 21. 

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

OBESIDADE Presente e Futuro


llA obesidade já é caracterizada por muitos como uma pandemia. As causas são as mais variáveis possíveis, passando pelas emocionais, sociais e biológicas. Pelas complicações como importante agravo à saúde, diversas soluções imediatistas são adotadas. Os apelos são sempre os mesmos: “perca....quilos em....dias”. De fato, a perda de peso pode ser um alento a quem desenvolveu a obesidade, porém não ataca a causa, ou seja, o agente promotor dessa mudança de padrão. Sendo as causas variadas, as soluções também devem ser. Adotar uma dieta que eleja determinado grupo de alimentos como responsável pela obesidade é, sem dúvida, uma abordagem por demais reducionista e não enxerga a complexidade do ser humano. Além do mais, ao alcançar os primeiros quilos reduzidos, a celebração será a comemoração.
Em 1972, um dos grandes best sellers do universo das dietas teve seu primeiro lançamento, com o título A dieta revolucionária do Dr. Atkins. Relançado 20 anos após, vendeu aproximadamente 12 milhões de cópias. Além das cópias vendidas, o Dr. Atkins criou, mais recentemente, uma companhia que desenvolvia os produtos baseados em sua dieta.
Falecido em 2003, o cardiologista Dr. Robert Coleman Atkins teria hoje a realidade das ações de sua empresa caindo no mercado. Apontado por alguns especialistas, esse fato seria conseqüência da falta de ciência na dieta proposta pelo Dr. Atkins, que, ao longo de sua vida, dizia ser um clínico e não pesquisador.
As dietas da moda são anualmente lançadas com a proposta de resolver a obesidade. O que podemos concluir é que as dietas não funcionam. A constatação é simples: todos os indivíduos obesos já fizeram pelo menos uma dieta e continuam como estavam. Isso significa que o estudo pormenorizado da ingestão alimentar, da prática regular de atividade física, do estado emocional e da presença de doenças determinantes da obesidade é fundamental ao sucesso no tratamento da obesidade.
Políticas públicas visando tratar dos fatores diretos e indiretos da obesidade são adotadas em alguns países:
• Criar ambientes propícios às atividades físicas regulares.
• Estimular também a vida mais ativa, como a iniciada pelo “Agita Osasco”.
• Desenvolver cardápios mais nutritivos em escolas e empresas, fazendo com que a rotina alimentar mais saudável seja adotada.
• Orientar o consumo alimentar familiar, sendo a refeição um fim em si mesma, e não um agente acessório como TV, computador etc.
• Desenvolver centros formados por equipes multidisciplinares de apoio a distúrbios emocionais associados à obesidade.
Essas estratégias demonstram a complexidade do tema e o cuidado que deve ser dado a ele, evitando sua banalização.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Bisfenol A, Obesidade e Diabetes

llO Bisfenol A (BPA), substância presente em alguns tipos de plástico, mamadeiras, chupetas e embalagens em geral, está relacionada à obesidade e ao Diabetes tipo 2.
Uma pesquisa realizada por uma equipe de pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard acaba de alertar que, ao consumir comida enlatada, há um aumento de 1000% dos níveis de bisfenol A no organismo.
Pela primeira vez, os cientistas conseguiram quantificar a substância em humanos. Foram feitos exames de urina em dois grupos de indivíduos. Um dos grupos, composto de 35 pessoas, tomou sopa enlatada por cinco dias seguidos. O grupo controle, com a mesma quantidade de pessoas, consumiu sopa fresca do mesmo sabor da enlatada.
A avaliação das amostras de urina mostrou que após dois dias do consumo das sopas preparadas com legumes enlatados, o aumento de bisfenol A no organismo foi de 1221% em comparação com as amostras de segundo dia após a ingestão de sopa com ingredientes frescos.
Pesquisas anteriores já haviam ligado os níveis altos de bisfenol aos efeitos nocivos à saúde. O objetivo foi descobrir como é o mecanismo de exposição ao BPA.
Comidas armazenadas em plásticos rígidos podem aumentar a quantidade de bisfenol no corpo. Este novo estudo sugere que os alimentos enlatados implicam em uma preocupação ainda maior, especialmente, porque são utilizadas em larga escala.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia vem liderando uma campanha nacional intitulada: “Diga não ao bisfenol A, a vida não tem plano B”. A pressão sobre as agências reguladoras já surtiu efeito a partir do dia 1º de janeiro de 2012 está proibida a venda de mamadeiras ou outros utensílios para lactentes que contenham a substância Bisfenol A (desregulador endócrino). A determinação é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista