quinta-feira, 31 de maio de 2012

DESENVOLVIMENTO DAS INSULINAS HUMANAS

llDurante muitos anos, as insulinas suína e bovina eram as únicas disponíveis para administração exógena. O surgimento da tecnologia de DNA recombinante permitiu a síntese de uma insulina “humana” e tornou desnecessário extrair insulina do tecido pancreático de animais. A produção da primeira insulina por DNA recombinante, em que a parte do gene da insulina ou pró-insulina é introduzida no genoma da bactéria Escherichia coli ou fungo Saccharomyces cerevisiae, foi anunciada em 1978 e tornou-se mais amplamente utilizada desde a década de 1980. A insulina humana tem como vantagens a menor imunogenicidade, menos reações locais e menor indução de anticorpos antiinsulina, quando comparada às insulinas bovina e suína, mesmo altamente purificada. O primeiro paciente a fazer uso da insulina humana biossintética foi um jovem de 18 anos que apresentava controle glicêmico ruim, apesar de ter sido aumentada progressivamente a dose diária de insulina, de 50 para mais de 110 unidades ao dia. Anticorpos antiinsulina eram extremamente elevados nesse paciente. Entretanto, dois dias após o início do uso da insulina humana, suas necessidades de insulina diárias caíram para 65 unidades ao dia.


DESENVOLVIMENTO DOS ANÁLOGOS DE INSULINA
A estrutura exata de aminoácidos da insulina foi descrita por Frederick Sanger, o qual recebeu o Prêmio Nobel em Química de 1958 por seu trabalho na estrutura de proteínas, especialmente da insulina. A identificação da estrutura permitiu importantes avanços na insulinoterapia, pois modificações de estrutura visando alterar o tempo de ação da insulina passaram a ser pesquisadas, dando origem, mais tarde aos análogos de insulina, ou seja, moléculas de insulina produzidas por DNA recombinante modificadas em laboratório.
A busca por análogos de insulina impôs-se, sobretudo pelo entendimento de que manter a glicemia próximo da normalidade reduzia o risco de complicações crônicas. Nesse sentido, ganhou força a pesquisa de formulações de insulina que refletissem de forma mais fidedigna a liberação de insulina basal e estimulada pela refeição da secreção endógena de insulina. Dessa forma, tornou-se importante não só o desenvolvimento de insulinas capazes de simular o perfil de secreção endógena de insulina, mas também que o fizessem com menor risco de hipoglicemia do que os esquemas habituais. O produto dessas pesquisas têm sido os análogos de insulina.  De acordo com essas mudanças, é possível prolongar ou reduzir o tempo de ação dessas drogas e, até mesmo, tornar o pico de ação de insulina desprezível. Atualmente, mais de 300 análogos já foram identificados e estão em estudos para serem utilizados na prática clínica.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A EVOLUÇÃO DAS INSULINAS


llA descoberta da insulina foi uma das maiores descobertas da medicina de todos os tempos, pois permitiu a sobrevivência de milhares de indivíduos com diabetes mellitus. 

PRODUÇÃO DE INSULINA EM ESCALA INDUSTRIAL
Após a descoberta da insulina, surgiu um grave problema. Não havia meios de produção suficientes no Canadá para suprir enorme demanda repentina. O fato culminou no envolvimento de vários outros laboratórios para garantir o fornecimento em escala industrial em 1922. George Walden demonstrou que, mantendo o ponto isoelétrico de insulina bovina e suína, o que permitiu extrair insulina suficiente para suprir a demanda de pacientes e médicos de todo o mundo. Inicialmente, a insulina disponível era U10 (10 unidades de insulina em 1 ml) com 3 a 5 ml injetados de cada vez. A seguir, as insulinas cristalinas em concentrações de 10, 20 e 40 unidades por militro passaram a ser disponíveis. Atualmente, a maioria das insulinas é comercializada na diluição U100, ou seja, 100 unidades por ml. Entretanto, diluentes ainda são disponíveis caso diluições maiores sejam necessárias, como ocorre por vezes em crianças muito pequenas, que necessitam de doses muito baixas de insulina. O número de usuários de insulina tem aumentado nos últimos anos consideravelmente, crescendo em torno de 10% a cada ano. Projeta-se que o crescimento aumente progressivamente até o ano 2020.

AVANÇOS NA PURIFICAÇÃO DAS INSULINAS
As primeiras insulinas comercializadas, de origens bovina e suína, possuíam muitas impurezas, fato que levava freqüentemente a reações locais, como alergias e abcessos. Elas ainda variavam de potência, de lote para lote, em até 25%. Desde os primórdios da insulinoterapia, foram iniciados esforços para eliminar as substâncias contaminantes, como a pró-insulina e o glucagon, e desenvolver insulinas mais puras. As técnicas de fabricação melhoraram bastante, por meio de diversos métodos, como a cromatografia, permitindo a produção de insulina de melhor qualidade e com menos impurezas e efeitos colaterais como alergia e lipodistrofia.
Na década de 1960, diversos estudos mostraram que pacientes com diabetes mellitus tratados com insulina, especialmente a de origem bovina, desenvolviam anticorpos antiinsulina. Isso significava uma redução da ação hipoglicemiante da insulina, com necessidade de aumento de sua dose para controle metabólico satisfatório. Em 1973, foi introduzida no mercado a insulina suína monocomponente purificada por cromatografia e praticamente destituída de contaminantes. Em 1974, a insulina suína altamente purificada também foi lançada. A formação de anticorpos antiinsulina com essas preparações foi bastante reduzida, assim como odesenvolvimento de alergia às insulinas. 

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 17 de maio de 2012

ATIVIDADE FÍSICA


llA atividade física é essencial para o bom funcionamento do corpo humano e uma eficaz ferramenta para auxílio na perda de peso. Toda vez que nosso organismo digere os alimentos, ocorre uma reação química que libera calor. Esse calor, que é a energia usada para manter o funcionamento do organismo, é chamado de caloria.
Assim como ocorre com fogo, o corpo humano precisa de oxigênio para que ocorra a reação química que permite a queima de calorias. Por isso, exercícios físicos que demandam maior consumo de oxigênio levam a uma maior queima de calorias.
Além de levar ao emagrecimento, o exercício físico regular é capaz de aumentar a capacidade de circulação do sangue para os tecidos.

Implicação do cigarro na prática de exercícios físicos
O tabaco dificulta a absorção de oxigênio. Isso reduz o desempenho durante uma atividade física e, conseqüentemente, seus benefícios.

Exercício aeróbio e anaeróbio
Existem diferentes classificações para os exercícios físicos. Uma delas baseia-se na fonte geradora de energia. Exercícios intensos e de curta são chamados de exercícios anaeróbios.
Já exercícios de longa duração e de baixa ou moderada intensidade são conhecidos como exercícios aeróbicos.
Outro tipo de classificação possível refere-se ao nível de intensidade do exercício. Por esse critério, podem ser divididos em alto impacto e baixo impacto. Não existe limite de idade para se exercitar, mas só um especialista pode dizer qual o tipo de atividade física mais indicada para sua condição de saúde.
Importantes dicas para iniciantes
• Comece aos poucos e aumente a freqüência e a intensidade dos exercícios gradativamente;
• Use roupas leves, confortáveis e que facilitem a transpiração;
• Use calçados com sola de borracha ou tênis;
• Evite carregar bolsas e sacolas durante o exercício para não sobrecarregar as articulações;
• O uso de aparelhos sonoros exige atenção redobrada, principalmente em locais públicos;
• Os exercícios devem ser freqüentes: muitos benefícios só aparecem se houver prática contínua;
• A atividade em locais abertos requer atenção e uso de protetor solar.

Como deve ser a alimentação de quem faz atividade física
A alimentação deve ser saudável sempre. Porém, para a prática da atividade física algumas recomendações são importantes: não fazer exercícios físicos em jejum e não comer demais antes de uma atividade física.
Vale lembrar também que a alimentação deve ser compatível com a quantidade de energia gasta no exercício.  O ideal é fazer um acompanhamento nutricional paralelamente à atividade física.
LEMBRE-SE! Segundo Organização Mundial de Saúde (OMS), fazer uma atividade física diária de 30 minutos diminui em até 35% a chance de um ataque cardíaco.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A DESCOBERTA DA INSULINA


ll A descoberta, isolamento e o início do uso terapêutico da insulina estão entre os principais eventos da história da medicina de todos os tempos, pois revolucionaram a história natural do DM. Frederick Banting foi admitido no laboratório do Prof. Macleod, do Departamento de fisiologia da Universidade de Toronto em 1921. Seu objetivo como cientista era isolar o produto de secreção interna do pâncreas, o que Macleod duvidava devido aos efeitos destrutivos do suco pancreático. Entretanto, Banting, juntamente com Charles Herbert Best, seu assistente de pesquisa, realizaram este feito e isolaram a insulina, publicando seus achados em 1922. Nicolae Paulescu, entretanto, um renomado cientista romeno, também havia descrito seu sucesso em isolar o hormônio (denominando-o de “pancreína”) em 1921. O reconhecimento pela sua realização só foi feito 50 anos mais tarde e todos os créditos pelo isolamento da insulina foram atribuídos a Banting, Best e Macleod. Isto se deve ao menos em parte ao fato de que estes pesquisadores não apenas terem isolado o hormônio, como também demonstrado sua aplicação no DM humano. Inicialmente, injetaram o hormônio isolado em cães pancreatectomizados, melhoramndo dramaticamente os sintomas do DM. O próximo passo foi o tratamento experimental de humanos.
Em 12 de janeiro de 1922 foi aplicada em um humano a primeira injeção de insulina com finalidade terapêutica, pelo grupo de Banting e Best na Universidade de Toronto. Leonard Thompson foi o primeiro paciente a se beneficiar desta fantástica descoberta. Na ocasião, tinha 14 anos e pesava cerca de 30 Kg. Os resultados iniciais foram desapontadores. Abscessos se desenvolveram no local da injeção e Leonard ficou agudamente doente. Entretanto, sua glicemia baixou, inicialmente, o que incentivou os pesquisadores a buscarem o refinamento da substância e tentarem a repetição do tratamento. Cerca de seis semanas mais tarde, a tentativa foi repetida com um extrato mais refinado. A glicemia do paciente baixou de 520 para 120 mg/dl em 24 horas e seu peso corporal rapidamente começou a aumentar. Leonard viveu de forma relativamente saudável por 13 anos, até que faleceu por pneumonia aos 27 anos. 
Logo vários outros pacientes puderam fazer o uso da insulinoterapia. A sobrevida média após o diagnóstico da doença aumentou consideravelmente.
O Prêmio Nobel de Medicina em 1923 pela descoberta da insulina foi concedido não a Banting e Best, mas a Banting e Macleod. Na tentativa de consertar a injustiça, Banting publicamente revelou o papel de Best na descoberta da insulina e dividiu com ele o prêmio financeiro. Macleod concordou em fazer o mesmo com Betran Collip, bioquímico que teve participação fundamental na obtenção de extrato pancreático.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 3 de maio de 2012

OS PRIMEIROS TRATAMENTOS PARA O DIABETES


llPor milhares de anos não se conhecia nenhuma forma para sobreviver ou tratar o DM de forma eficaz. Na Grécia Antiga, era comum que se recomendasse aos pacientes diabéticos a montaria de cavalos, visando reduzir a poliúria. Jhon Rollo foi o primeiro médico a propor a restrição dietética no tratamento de diabetes, na Inglaterra, em 1797, ao observar que o açúcar na urina dos pacientes aumentava após a ingestão de carboidratos e tratar com sucesso um paciente com dieta hiperprotéica e hiperlipídica. Bouchardet (1806 – 1886) valorizou a dieta no tratamento do diabetes, enfatizando a restrição de carboidratos e aconselhando, para substituí-los, a gordura, o álcool e os vegetais verdes. Recomendava, além disso, dias de jejum. Cantani (1837 – 1878) também advogou a restrição  dietética e os dias de jejum para o tratamento de diabetes. A ele foi atribuída a frase “os remédios para o diabético devem ser procurados na quitanda e não na farmácia”. Bouchardet e Lancereaux foram os primeiros a sugerir que a atividade física era capaz de reduzir a glicosúria, em meados do século XIX. Em 1903, a “dieta da aveia”foi introduzida por Von Noorden, em que aveia misturada a manteiga era recomendada para o tratamento. Frederick Allen defendeu em 1913 o ponto de vista de diabetes representava um distúrbio total do metabolismo e insistiu nas vantagens da subnutrição no controle da doença. Outros, por outro lado, recomendavam a alimentação excessiva para compensar as perdas de fluidos e de peso. Em 1915, Sir William Osler levantou até mesmo a possibilidade do uso de ópio para tratamento do diabetes. 
Assim que a ligação entre pâncreas e diabetes foi reconhecida, iniciou-se uma busca pela obtenção de extratos pancreáticos visando o tratamento do DM. Zuelzer, além de obter tal extrato no início do século XX, denominado acomatrol, o injetou em um paciente diabético em estágio terminal. Após a injeção, o paciente apresentou melhora significativa, porém faleceu assim que o acomatrol foi eliminado. Apesar de Zuelzer ter solicitado a patente americana de sua “preparação pancreática para o tratamento do DM”, resultados desanimadores com esta modalidade terapêutica fizeram com que esta fosse abandonada. 
No período em que a insulina foi desenvolvida para o tratamento humano, o tratamento do diabetes era baseado principalmente na subnutrição recomendada por Allen. Este rígido tratamento era mais eficaz no que hoje denominamos DM tipo 2, porém tinha alta mortalidade nos pacientes  que hoje reconhecemos como DM tipo 1. Entretanto, mesmo neste grupo, o tratamento do Dr. Allen permitiu que um número razoável de pacientes jovens sobrevivesse por um tempo até a descoberta da insulina.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista