sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DIAGNÓSTICO PRECOCE DO PÉ DIABÉTICO IMPACTO EPIDEMIOLÓGICO E SOCIOECONÔMICO


llO glossário do Conselho Internacional sobre Pé Diabético define pé diabético como infecção, ulceração e/ ou destruição de tecidos moles associadas a alterações neurológicas e vários graus de doença arterial periférica (DAP) nos membros inferiores. Os dados epidemiológicos variam pela diversidade dos critérios diagnósticos e pelas mudanças regionais dos desfechos: em países desenvolvidos, a DAP surge com maior frequência, enquanto que nos países em desenvolvimento a infecção é, ainda, a mais comum complicação das úlceras que resulta em amputações.
Considerando-se estudos recentes que apontam incidência entre 1% a 4,1% e prevalência entre 4% e 10%, tem-se estimado a incidência de ulceração ao longo da vida entre portadores de diabetes mellitus (DM) em 25% e 85% das úlceras que precedem amputações. O aspecto mutilador da complicação se traduz em um problema de grande relevância médica, pelo impacto socioeconômico global resultante: a cada minuto, ocorrem duas amputações em todo mundo decorrentes do DM, o que explica, também, o elevado interesse no incremento das publicações sobre o tema: 0,7% (1980 a 1988) para 2,7% (1988 a 2004).
Grande parte das úlceras com infecção é tratada em ambulatório, contudo o binômio úlcera e infecção constitui a causa mais comum de internações prolongadas, concorrendo para 25% das admissões hospitalares dos Estados Unidos e implicando custos elevados (US$ 28 mil dólares), enquanto na Suécia a variação decorre da realização ou não de amputação (U$ 18.000 [sem amputação] e U$ 34mil [com amputação]). Em vários países em desenvolvimento, sabe-se que os leitos hospitalares em emergências e enfermarias estão ocupados por pacientes diabéticos com lesões em pés, amputações mal conduzidas e baixa resolução as indicações de revascularização.

llFatores implicados 
na ulceração
A neuropatia diabética (ND) está presente em 50% dos pacientes acima de 60 anos, sendo a polineuropatia simétrica distal ou polineuropatia diabética (PD) periférica a forma mais comum, seguindo-se a autonômica. Inquestionavelmente, trata-se do fator mais importante para originar úlceras em membros inferiores. A PD afeta 30% dos pacientes em atendimento clínico hospitalar e 20 a 25% na atenção básica, além de estar presente entre 10% daqueles com pré-DM. Se um em cada dois pacientes com PD não apresenta sintomas neuropáticos e a dor neuropática não é devidamente tratada entre 39%, deve-se efetuar  avaliação clínica anual, a exemplo do que se recomenda a outras complicações diabéticas (nefropatia, retinopatia, doença cardiovascular), visando ao diagnóstico precoce do risco de ulceração e/ ou amputação. 

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A PODEROSA VITAMINA D


llOs livros didáticos disponíveis atualmente ensinam que a vitamina D é essencial na formação dos ossos e dentes. Mas esses textos precisarão ser reformulados para acrescentar uma longa lista de benefícios descobertos recentemente, que revelam que a substância faz muito mais pelo organismo  do que se imaginava. Ela ajuda a emagrecer, fortalece o sistema de defesa do organismo auxilia na prevenção e tratamento de doenças como a diabetes e a hipertensão e está associada a uma vida mais longa – para falar somente de alguns de seus efeitos positivos. Por essa razão, a vitamina tornou-se a mais nova queridinha os médicos em todo o planeta. Muitos já estão solicitando a seus pacientes que meçam sua concentração no corpo e façam reposição se assim for necessário.
Um dos achados mais reveladores – e que ajuda a sustentar a nova atitude dos médicos – surgiu de um trabalho de cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Eles sequenciaram o código genético humano para averiguar quais regiões do DNA apresentavam receptores para a vitamina. Receptores são uma espécie de fechadura química só aberta por chaves compatíveis – nesse caso a vitamina D -, para liberar o acesso e a ação do composto à estrutura a qual pertencem.
O time de Oxford descobriu nada menos do que 2776 pontos de ligação com receptores de vitamina D ao longo do genoma. “A pesquisa mostra de forma dramática a ampla influência que ela exerce sobre nossa saúde”. Isso quer dizer que sua presença faz uma bela diferença na forma como trabalham os genes. “Todas as células mapeadas possuem receptores diretos da vitamina”.
A outra comprovação inquestionável do poder abrangente da vitamina no corpo humano veio de uma ampla revisão de trabalhos científicos realizada pela Sociedade Americana de Endocrinologia cujo resultado foi divulgado há dois meses. “Ela age no coração, no cérebro e nos mecanismos de proliferação e inibição de células, entre outros sistemas”. “A vitamina D também atua nos músculos, que são as únicas estruturas capazes de dar mais estabilidade aos ossos”.
Muito do que se sabe a respeito dos novos benefícios da substância é referente à diabetes tipo 2, que hoje exibe proporções epidêmicas no mundo. Trabalhos demonstram que níveis baixos da substância estão relacionados a uma disfunção ligada à origem da doença chamada resistência à insulina. A insulina é o hormônio que permite a entrada, nas células, da glicose circulante no sangue.
No caso da diabetes tipo 2, ela não consegue cumprir sua função corretamente e o resultado é o acúmulo de glicose na circulação sanguínea, o que caracteriza a enfermidade.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

CRESCE O USO DE DROGAS PARA EPILEPSIA E DIABETE NO TRATAMENTO DA OBESIDADE


llMenos de um ano após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter proibido a venda de remédios derivados da anfetamina para tratar obesidade, o consumo off label (indicação fora da bula) de drogas para epilepsia, depressão e diabete disparou no País.
Esses medicamentos (topiramato, liraglutida, bupropiona e metformina) não foram aprovados pelo tratamento da obesidade, mas também fazem perder peso. Por isso, têm sido indicados para quem não consegue emagrecer tomando sibutramina ou orlistate, as duas opções oficiais restantes.
Mas esses remédios ainda não foram amplamente testados para o tratamento da obesidade. Apesar de existirem estudos em andamento, ainda não é possível afirmar que são totalmente seguros e eficazes para esses casos.
O consumo do anticonvulsivante topiramato, por exemplo, cresceu 64% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2010, antes de a Anvisa proibir três dos medicamentos usados para emagrecer (anfepramona, femproporex e mazindol). Entre os principais efeitos colaterais do topiramato estão lentidão cognitiva, diminuição do raciocínio, esquecimento de palavras em um discurso e malformação fetal (risco de lábio leporino).
A liraglutida – indicada para tratar diabete e vendida com o nome de Victoza – chegou ao mercado em maio do ano passado e teve um crescimento explosivo nas vendas em setembro, mês em que uma reportagem em uma revista apontou como droga “milagrosa” na perda de peso.

llEUA aprovaram novos remédios
Após 13 anos sem registrar nenhuma nova droga para a obesidade, a FDA (agência norte americana que regulamenta fármacos e alimentos) autorizou no mês passado a venda de dois novos remédios moderadores de apetite.
A primeira droga a ganhar o aval do governo americano foi a locarserina (Belviq), da farmacêutica Arena.
Poucos dias depois, a FDA aprovou a venda do Qysimia da farmacêutica Vivus. A droga é a mistura de dois outros medicamentos já existentes: a fentermina (derivado da anfetamina) e o topiramato (anticonvulsivante usado para tratar epilepsia   e prevenir enxaqueca).
Tanto o Belvic quanto o Qysimia são indicados para adultos obesos com um índice e massa corporal (IMC) de 30 ou mais e também para adultos com IMC maior que 27 (considerado sobrepeso), desde que o paciente tenha ao menos uma comorbidade associada, como hipertensão, diabete do tipo 2, síndrome metabólica ou colesterol alto.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A COMPOSIÇÃO DE GORDURAS NOS ALIMENTOS


llDos laboratórios de nutrição à mesa de refeição, há um longo caminho. Nos tubos de ensaio, os nutrientes são analisados isoladamente. Quando se transformam em comida, tudo muda. “Caso fosse feito só de cacau, o chocolate estaria entre os alimentos mais saudáveis”. O doce, como o conhecemos, é feito de açúcar e leite, o que nos obriga a consumi-lo com moderação. O mais indicado é o com alto teor de cacau. Carne vermelha? Ela também começa a ser reabilitada. Dos cerca de 300 estudos publicados anualmente sobre o alimento, metade condena a sua ingestão, metade a absolve. Há pelo menos vinte anos tem sido assim. Pois bem, metade da gordura que compõe a carne vermelha é oleica, ou seja, a mesma ao saudabilíssimo azeite de oliva. A outra metade é saturada, que, quando consumida em doses ideais, como já se viu até aqui, é essencial para o bom funcionamento do organismo.

Os Diferentes tipos de Gordura
Gordura Saturada
Principais fontes: Carne animal, leite, queijos, óleo de palma, cacau, óleo de coco e coco.
Funções no organismo: Está associada à fabricação dos hormônios sexuais e à integridade das membranas celulares. Participa do armazenamento das vitaminas A, D, E e K nas células.
Riscos do excesso: Aumenta o colesterol ruim (LDL) – o consumo diário de 1% além do limite está associado a um acréscimo de 1,5 miligramas por decilitro do LDL em um mês.
Doenças associadas ao consumo excessivo: Infarto, aterosclerose e hipertensão.
Poli-Insaturada
Principais fontes: Óleo de soja, linhaça, óleo de girassol e óleo de milho.
Funções no organismo: Auxilia na manutenção das membranas celulares, participa da fabricação de hormônios e tem ação anti-inflamatória nas células.
Riscos do excesso: Possui alta capacidade de oxidação, o que leva à formação de radicais livres, moléculas com efeito tóxico, e à redução do calibre das artérias.
Doenças associadas ao consumo excessivo: Infarto, aterosclerose e linfomas.
Monoinsaturada
Principais fontes: Abacate, óleo de oliva, amêndoa e castanha-de-caju.
Funções no organismo: Mantém a integridade das membranas celulares, tem em sua composição substâncias antioxidantes e aumenta o colesterol bom, o HDL.
Riscos do excesso: Aumento de peso.
Doenças associadas ao consumo excessivo: Obesidade, tal qual acontece com as outras gorduras.
Gordura Trans
Principais fontes: Biscoitos, sorvetes, salgadinhos de pacote, bolos e tortas industrializados.
Funções no organismo: Nenhuma. Essa gordura é produzida industrialmente, de modo a dar sabor e crocância aos alimentos.
Riscos do excesso: Aumenta o LDL e diminui o HDL no sangue. Também está associada ao acúmulo de gordura visceral. Além disso, danifica as membranas celulares.
Doenças associadas ao consumo excessivo: Diabetes, derrame, hipertensão, infarto e depressão.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A GORDURA DO BEM


llAté recentemente, conforme os manuais da boa alimentação, o máximo preconizado de gordura saturada era de 7% do total de calorias ingeridas diariamente. Agora, o limite foi estendido a 10%. Pode parecer pouco, mas essa diferença equivale a um torresmo. Ou a uma colher e meia de sopa de manteiga. Ou ainda a um bife de picanha. Embora não seja unanimidade, o afrouxamento nos parâmetros já consta das Diretrizes Alimentares Americanas, da FDA. No Brasil, com o objetivo de orientar os médicos e pacientes sobre as novas recomendações, 31 profissionais da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Acabam de concluir a mais ampla cartilha já feita sobre a associação entre o consumo de gorduras e as doenças cardiovasculares.
Em quantidades ideais a gordura saturada é essencial para o bom funcionamento do organismo. Ele integra as membranas celulares e participa do armazenamento das vitaminas A, D, E e K nas células do organismo. Em excesso, porém, o nutriente provoca o acúmulo de colesterol ruim, o LDL, nos vasos sanguíneos. Pois bem, a gordura saturada consumida em demasia nem sempre é maléfica. Por um simples e único motivo: ela tem várias versões. As gorduras são um amontoado de moléculas constituídas sobre tudo por átomos de carbono e de hidrogênio. O que difere uma das outras é, basicamente, a proporção nutre os dois. Quanto mais hidrogênio, mais danosa será a gordura, se consumida além dos limites recomendados. Em quantidades desproporcionais, os átomos de hidrogênio fazem com que a molécula de gordura se solidifique e adquira um formato uniforme. Tais características facilitam a sua ligação ao LDL, o colesterol ruim, no fígado. Assim quando o LDL sai do fígado e cai na corrente sanguínea, carrega um grande volume de gordura saturada, lesionando a parede das artérias. Com poucos átomos de hidrogênio, a molécula permanece disforme e leve, o que dificulta a sua entrada no colesterol ruim.
Por essas definições, chegou-se a quatro principais tipos de gordura saturada. A mais perniciosa, quando ingerida em abundância, é a do óleo de coco, chamada láurica. Aos que aderiram à onda recente das pílulas de óleo de coco para emagrecer, fica o alerta. Em vez de uma silhueta enxuta, há o risco da multiplicação de artérias entupidas por moléculas de gordura láurica. 
Depois da láurica, a mais perigosa na lista das saturadas é a gordura encontrada no leite em seus derivados, conhecida como mirística. Em terceiro lugar, a palmítica, da carne animal. A boazinha entre as saturadas é a que se obtém do cacau, a esteárica. Em vez de se ligar ao colesterol ruim do fígado, ela é convertida em um tipo de gordura insaturada, a gordura do bem, a mesma do óleo de oliva extravirgem, conhecida como oleica. 
Na próxima edição falarei sobre os diferentes tipos de gordura.

Dr. José Amando Mota é médico Endocrinologista e Metabologista